Estes dias fui para a feira mais famosa de produtos cristãos aqui em São Paulo.

Lá eu vi de tudo: Chifre de cordeiro para unção, pipoca mágica, MissonCard o cartão de crédito para o seu ministério, Apóstolo que foi preso pregando em línguas, CD falando que conseguiu gravar a unção, faculdade teológica onde você faz a inscrição e ganha um celular, meninas de mini-saias vendendo livros, sem contar as dezenas de ministérios em cima de nomes e pastores bem produzidos. Já sabia que ia encontrar algo parecido, pois estamos vendo uma parte dos evangélicos no Brasil ir para este caminho faz um bom tempo.

Mas o que eu gostaria de falar é de um sentimento que tive ao andar pelo imenso saguão e olhar todos os expositores. As imensas lojas com uma decoração belíssima, o tapete vermelho nos corredores, a iluminação e efeitos visuais, os mega banners nos dão a nítida impressão que estamos na exposição do melhor que há no Brasil.

Muitas frases e títulos de CDs, DVDs e livros falando do quão bom é o produto e tal cantora, radio ou canal de TV.

Lembro-me de ter ouvido que alguns países, algum tempo atrás, fizeram uma jogada de marketing tirando todos os jogadores de tênis do ranking mundial (ATP), e fizeram um ranking interno no país, promovendo uma grande propaganda, abafando e descredibilizando o rankings da ATP. Pois perceberam que com esta manobra política, o país iria ganhar mais com o marketing, os atletas seriam melhores ranqueados e assim também ganhariam mais. E realmente esta jogada deu certo por um bom tempo.

Olhando o mercado gospel percebo a mesma jogada em muita coisa. Antes usávamos como desculpa a música para “adoração”, o filme evangelístico, mas cada vez mais percebemos que música é musica, filme é filme e palestra motivacional é palestra.

Fizeram um ranking interno onde nos canais de TVs e nas Rádios só passam o que está na proposta (financeira, é claro) do gospel brasileiro, onde todos ganham mais. Desde o produtor até os cantores, atores, palestrantes e empresas. Pois, afinal, não importa se a comida da lanchonete da esquina não é tão boa assim, vamos comer lá para ajudar o irmão.

Todos ganham, menos o consumidor cristão, pois pelo fato de colocarem na cabeça deles que só este pequeno círculo de “arte” e produto são os que ele pode consumir, baseado em um marketing agressivo de profanar quem não fechou contrato com eles, vão tornando cada vez mais medíocre o seu público e o fidelizando com produtos de terceira categoria.

Tirando este prejuízo catastrófico com os cristãos brasileiros, eles viciam o mercado deixando os artistas bons e de bom caráter que não querem se envolver com toda politicagem, à margem dos ouvintes, não por qualidade, mas por que não entraram no esquema.

É lógico que até no meio gospel existe gente com o material bom, mas o sentimento que temos é que estamos ouvindo as melhores músicas, da voz dos melhores músicos, as melhores revistas, peças, podcasts, livros, filmes, e quando caímos na real percebemos que são os melhores mesmo, mas que estamos na terceira divisão.

17 Comments

  • Pode crer, terceira divisão…Esse ano não fui na feira, não tive vontade… mas com seu relato, deu pra ver que não mudou muito e o que mudou não foi pra melhor… às vezes, volta à minha mente uma dúvida a respeito de feiras como essa: onde está Deus e como estão glorificando Seu nome num evento desses?Sinceramente, não me dei ao trabalho de achar resposta… o máximo que eu ia conseguir era uma desculpa!Deus continue te abençoando, Marquinhos!!!!Sabrina

  • Marcos Botelho, acompanho seus posts sempre. Gosto da maneira criativa e irreverente que você escreve e como irmão em cristo gostaria de lhe dar os parabéns pelo blog! Mas gostaria também de fazer uma crítica para que ele melhore cada vez mais. Sou publicitário e trabalho com marketing há 10 anos e como publicitário, entendo que a diferença entre MARKETING, PUBLICIDADE e MEIOS DE COMUNICAÇÂO não estão claras para você. Por mais que talvez não seja a sua intensão, seus comentários sobre o marketing têm erros conceituais graves e que dão a entender que seja uma profissão maldita aos lhos de Deus. Falo numa boa.. Continuarei lendo o seu blog e ouvindo os podcasts JV! hah

  • Meu companheiro anonimo, manda para mim (resumidamente hahhaha) a diferença… Não quero ser injusto por minha ignorancia na semântica MARKETING. Não se preocupa, pois gosto do MARKETING, e até acho q vou voltar a facu p/ fazer ano que vem, mas como em todas as profissões, tem gente q usa pro mal!

  • Gostei da visão Marquinhos :)Enfrentei esse dilema ainda na adolescência, quando percebi que sentia mais prazer e satisfação ao ouvir música "secular". Hoje, tendo a oportunidade de liderar um classe de jovens tento passar a ideia de que devemos enriquecer o nosso repertório cultural e artístico com o que há de melhor e desenvolver nosso senso crítico – a fim de filtrar tudo. Do contrário, vamos engolir todo tipo de porcaria rotulada gospel.Basta lembrar que até pouco tempo estava sendo vendido por uma famosa igreja o PC Gospel, com uma configuração ínfima e preço absurdo. É chamar a gente de ignorante…Abraços

  • Imagino o quanto você deu risada nessa feira, não é? Pois é, acho que não era pra ser assim. Uma feira tinha que ter produtos úteis pra nós, consumidores. Mas tem coisas tão babacas que nos fazem dar risada.Como a moda agora é ser crente, é só criar qualquer coisa com "gospel" no nome que faz sucesso.Prova disso: vê se as músicas de João Alexandre são tão conhecidas quanto as músicas de adoração que repetem a mesma palavra 107343726 vezes?? Claro que não. E só tem uma explicação: as músicas do João Alexandre nos fazem pensar, e isso, "pensar", é meio complicado ultimamente.

  • Imagino o quanto você deu risada nessa feira, não é? Pois é, acho que não era pra ser assim. Uma feira tinha que ter produtos úteis pra nós, consumidores. Mas tem coisas tão babacas que nos fazem dar risada.Como a moda agora é ser crente, é só criar qualquer coisa com "gospel" no nome que faz sucesso.Prova disso: vê se as músicas de João Alexandre são tão conhecidas quanto as músicas de adoração que repetem a mesma palavra 107343726 vezes?? Claro que não. E só tem uma explicação: as músicas do João Alexandre nos fazem pensar, e isso, "pensar", é meio complicado ultimamente.

  • Oi Marcos… qto tempo! Gostei muito do que li aqui! Puxa, é bom pensar que temos irmãos que querem dar o melhor no reino de Deus, incluindo o seu trabalho, o serviço ao irmão, etc… É muito bom mesmo, renova a nossa fé! Um abração,Andrea Moraes(ABU Mackenzie, lembra? Faz tempo…)

  • Marcos, por bem menos do que temos visto hoje em dia no meio "evangélico", Lutero e os reformadores se levantaram e combateram essa exploração mercadológica da fé.Nossa Igreja Evangélica PRECISA de REFORMA, urgente! Na idade média, pelo menos, as pessoas compravam indulgências pensando no que ganhariam na Eternidade. Hoje, compra-se, barganha-se com Deus apenas pelas bênçãos a serem desfrutadas na história.Essa máquina Gospel está a serviço do Prínicipe da potestade do ar, com o propósito único de desviar a atenção de todos, inclusive de muitos que se acham "cristãos", da Fé na Obra de Cristo na Cruz único meio de nascer de novo para Deus.Sobre isso, sugiro aos leitores uma série de sermões entitulada: Ressurgência: http://www.chacaraprimavera.org.brAbraços,

  • É triste escrever, mas o Marcos tem razão.Quando reflito sobre a Ig. brasileira dá vontade de chorar.Agora, moça de mini-saia eu não esperava.sobre música, só tenho a dizer que João Alexandre é bom.tb tem a Nivea soares,fernandinho,David quinlan e Heloisa rosa que é diferenciada.e o repertório das igrejas hoje é péssimo.

  • "Apóstolo que foi preso pregando em línguas"!Lendo vc, um missionario cristão e presbiteriano, escrever sobre isso me vem a pergunta: O que é pior? O apostolo que foi preso falando em linguas, ou o reformador Calvino que consentiu com o assassinato daquele médico e ainda o pessoal fez maior festança pro 500 anos dele( compram seus livros, fazem vinho em sua homenagem)????SEUS COMENTARIOS SÃO ÓTIMOS, MAS QUANDO VIRAM MEIOS MORALISTAS DÓI UM POKINHO!A MERCANTILIZAÇÃO DA FÉ E DA ALMA É REFLEXO DA MERCANTILIZAÇÃO DE TUDO EM NOSSA SOCIEDADE. A EXPO TEM COISAS BOAS E OUTRAS NEM TANTO ASSIM.HAAAA EU AMOOO A TEOLOGIA REFORMA E GOSTO MUITO DO REFORMADOR ACIMA CITADO!!rsrs

  • Olá Marcos, a Paz! Gostei do seu comentário. Estive na feira, até comprei uns livrinhos que posso te emprestar depois. Mas, realmente, o comércio e o nós-somos-melhores-que-os-de-fora imperaram, muito além do glorificar a Deus. Foi uma pena. De qualquer maneira, valeu a tentativa.Um off-topic: engraçado que os críticos sempre "assinam" como anônimos… hehehehehheAbraço. Deus te abençoe.

  • É a falência do Cristianismo. Cristianismo S/A, mercado religioso. O capitalismo é mesmo hipnotizante. Jesus é um bom produto, vende que é uma beleza. "O pop não poupa ninguém";agora somos isso: pops inserido no mercado global da religião que só vê cifrões diante dela. Somos os novos judas, vendendo Jesus por moedas de prata; não mais para crucificá-lo, mas para que ele se torne um ídolo que pode ser consumido tal qual uma coca-cola.Qual foi mesmo o teólogo que disse que: "Jesus veio anunciar o Reino de Deus, mas em lugar do Reino, veio a igreja"?Um grande abraço, parabéns pelo conteúdo.Quem quiser trocar ideias pode me encontrar em saladopensamento.blogspot.comAbraços.

  • Olá Marcos,Sou pastor e músico de uma igreja em Itaboraí-RJ. Todas as vezes que estou quase desistindo de lutar, e entregar o ministério de louvor da igreja a qualquer um, eu leio (graças a Deus) reflexões como a sua.A luta para manter o mínimo de conteúdo está cada vez mais difícil, mas precisamos continuar, para impedirmos que esse mal acabe com a (excelente) musicalidade brasileira.

  • Cara, muito bom seu comentário. Esses dias postei algo similar no meu blog (http://emburaman.tumblr.com/).Abraços!!!Sobre a contestação do Anonimo sobre o uso equivocado do termo Marketing, na verdade o que eu entendi é que a crítica do Marcos não é para os "Marketeiros", mas para o mau uso que alguns cristãos fazem dessa ferramenta, para "emburrecer" cada vez mais seus "fiéis".

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