Não é a toa que se realiza, aproximadamente, a cada 20 anos, o congresso mundial de missões do Movimento Lausanne. Foi algo singular e marcante para os que viveram e para os que ainda vão receber a reverberação de quem esteve lá.
Em 1999 fui para o seminário chamado Faculdade Latino-Americana de Teologia Integral (FLAM) do JV, cujo nome vem do movimento da América Latina germinado pelo pacto de Lausanne de 1974.
Desde lá até então, me apaixonei e tentei viver a Missão Integral dada por nosso Senhor Jesus Cristo. Li os autores que falaram naquele movimento, como John Stott, Rene Padilla e Samuel Escobar, li e estudei os muitos autores brasileiros que desenvolveram o assunto, indo mais longe até do que o próprio pacto. Dou destaque para Ariovaldo Ramos que, por ser diretor da FLAM, ouvi dezenas de aulas fantásticas sobre o assunto.
Em 2006 fui chamado para fazer parte da delegação do Lausanne Jovem, que foi realizado em Kuala Lumpur, Malasia , mas não consegui ir por motivos financeiros.
Quando recebi o convite em 2009 para ir para Lausanne III Cape Town 2010, sabia que não podia perder esta oportunidade, com o apoio de bolsa do Movimento Lausanne e da minha igreja local se tornou possível a minha participação.
A delegação:
Já no aeroporto de Guarulhos percebi o tanto que me identificava com a delegação brasileira que estava indo. Líderes da minha geração, como Fabricio Cunha e Marcel Steuernagel, e líderes que me influenciaram em uma vida integral em Cristo como Ricardo Barbosa, Ricardo Agreste, Robson Cavalcante, Marcelo Gualberto, Carlinhos Veiga, Durvalina Bezerra, Valdir Steuernagel, entre muitos outros estavam indo.
O congresso:
Chegamos 2 dias antes do início do congresso para nos adaptar e quando começou, no domingo dia 17/10/10, só queria absorver e desfrutar de tamanho privilégio.
Nos primeiros dias tive um baque muito grande, pois descobri que 74 para nós tem uma perspectiva diferente do resto do mundo, e comecei a me abater, pois esperava que o assunto Missão Integral (Holistic Mission) estivesse o tempo todo em pauta da maneira que aprendi. Mas antes que me abatesse, Deus me mostrou que o mote de 74 “toda a igreja levando todo o evangelho para todo o mundo” era isso, pessoas em cada contexto entendendo o evangelho em ênfases diferentes, mas que Cristo era o centro da mensagem.
A organização conseguiu colocar 4.500 participantes em mesas de seis pessoas, com cada congressista de um país diferente. Na minha mesa tinham missionários do México, Chile, Guiné Equatorial, Espanha e Cuba. E a cada palestra os organizadores davam um tempo para orarmos e discutirmos o assunto em espanhol. Foi muito pessoal e enriquecedor poder, mesmo em um congresso gigante, aprender com bate papo sentado ao redor da mesa.
De manhã as exposições de Efésios me surpreendiam mais e mais, expositores como Ruth Padilla, John Piper, Ajith Fernando, Calisto Odede, Vaughan Roberts e Ramez Atallah colocaram de maneira bíblica e contemporânea a mensagem de Deus para nós.
No âmbito teológico vi que o conflito entre um evangelho da salvação da alma e da salvação da vida ainda está dicotômico entre países Norte Americanos/Europeus e Latino Americanos/Africanos/Asiáticos. Mas creio que não deve ser rompida esta tensão para que não diminuamos nenhum do dois, nem o sofrimento eterno defendido por Piper e outros, e nem o sofrimento terreno defendido por Ruth Padilla e dos missionários dos países oprimidos.
Lausanne 3 pôde reafirmar alguns pontos polêmicos, mas que distinguem o Movimento Lausanne de outros: o papel da mulher ao lado do homem na criação e no ministério, distinguindo assim dos movimentos históricos e, a vida simples repudiando a mensagem da teologia da prosperidade dos movimentos contemporâneos.
Os testemunhos ganharam um papel de destaque nesse congresso, pode-se falar do problema de perseguição da igreja em muitos países, da descriminação da mulher e da criança, da pobreza e miséria, dos abusos de países dominadores, tudo testemunhado de uma maneira muito agradável e emocionante.
Os contadores de histórias também foram citados como fundamentais na evangelização mundial, mostrando que eles não precisam de muita estrutura para compartilhar a fé e que antecedem o processo de tradução da bíblia nos lugares não alcançados.
Pude perceber que Lausanne 3 entendeu que mudou o processo de aprendizado desta nova geração. Mesmo estando em um congresso que todos tinham mais de 30 anos e que, no mínimo 50% tinham acima de 50 anos, o Movimento Lausanne mais uma vez está à frente da maioria dos movimentos cristãos.
Todas as reuniões eram bem divididas entre música, palestra, testemunhos, teatro, bate papo em volta da mesa e manifestações culturais como dança, por exemplo. A velha palestra de 50 minutos substituída por palavras de 10, 20 e no máximo 30 minutos. Passávamos horas dentro do salão, mas tudo era muito bem absorvido e, o cansaço por causa da mudança de método era amenizado. A mensagem foi passada em um formato pós-moderno, interativo e construída junto com o protagonismo de cada congressista.
Deus falando comigo:
A minha principal experiência não foi em uma palestra ou nas orações nas mesas e sim na quarta-feira, andando nos corredores. Como era o meu primeiro congresso internacional, nunca tinha visto tantas pessoas de nacionalidades diferentes em um mesmo local, muito menos com o mesmo propósito.
Além de ser lindo ver as roupas, cores, línguas e culturas diferentes, Deus me mostrou algo que não me contive e tive que parar e chorar pedindo perdão por minhas limitações.
Desculpa a analogia bélica, mas é como se no meu chamado missionário eu tivesse sido convocado para um exército muito bom:
Sabia que a guerra já estava vencida pela qualidade do general, mas neste congresso o general me chamou para dar uma volta e subir uma montanha.No caminho ele falou comigo que eu estava muito preocupado com pequenas coisas da minha tropa, do meu mundinho. Eu não estava entendendo o que ele queria me falar, foi quando cheguei no topo da montanha e olhei para o outro lado, não tinha fim o exército do qual eu fazia parte. Meus olhos não conseguiam enxergar o fim, eu era muito limitado. Ao cair de joelhos na frente do general pedi desculpas por ser limitado, por forçar coisas pequenas, por reduzir o seu exército(igreja) nas minhas falas, por não reparar em boa parte das necessidades do resto do exército. Depois me calei em adoração à sua grandeza!
O que trago na bagagem:
Volto para o Brasil com a visão ampliada, com a motivação renovada e com a certeza de que o Reino de Deus chegou e está entre nós fazendo maravilhas.
Quero passar para os líderes que não puderam ir esta mensagem, de que o Reino de Deus é maior que a nossa visão e que Deus está se movendo por toda a terra.
Quero encorajar os jovens que missões não é uma opção para alguns e sim um modo de vida que Jesus Cristo nos chamou a viver.
Que Deus abençoe esta minha Missão.
Botelho, obrigado por este post.
Ele me anima, me inspira e renova a paixão pela missão na qual Deus, graciosamente, quis nos inserir.
Profundo, emocionante e inspirador.
Obrigado.
Olá MB queria te agradecer pela disposição em gravar todos esses ricos momentos de Lausanne III, imagine se tivéssemos algo do tipo de 74! Que essa experiência desperte muito ânimo frente aos novos desafios traçados a todos que estiveram presentes.
Que Deus abençoe essa, que agora é nossa, Missão.
E ai marquinhos – saudades de vc sabia. Faz tempo que não nos falamos, mas sempre acompanho seu blog…
Muito bom esse post. Confesso queria muito ter estado lá. Quem sabe na próxima né?
Acho que precisamos sempre rever nossos conceitos e debater com as pessoas sobre a realidade do mundo. Isso que você fez de ir até lá é o modelo ideal para conhecer de perto a realidade e pararmos de ver o mundo como simplesmente achamos ou como nos contaram.
Acho que missões tem que ser nosso estilo de vida, nossa forma de viver. Temos que ser a 4ONDA – temos que ser influencia para o mundo a partir das áreas de influencia na qual estamos inseridos.
Sei que Deus tem muito para fazer através de nossas vidas. E você é um desses amigos que aceitou ser essa diferença.
Bjaoo
Camis (jvnaestrada) hahahah
Botelho, é privilégio e benção de Deus (como sinônimos mesmo) conhecê-lo e acompanhar o seu ministério, ver “da janelinha” o que está acontecendo no mundo, aproximar-nos das missões, por onde pega realmente: pelo coração.
Beijos,
taci