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Puxa, alcançamos a segunda metade do estudo, hein, Marcos. Até aqui nos ajudou o Senhor!
O capítulo 9 começa com o episódio conhecido como a “transfiguração”.
Jesus leva três de Seus discípulos ao cume de um monte, e naquele lugar eles veem Jesus manifestando, em seu corpo e vestimentas, uma “glória” inigualável.
Quando penso nessa “glória” de Deus manifesta em Jesus fico tentando concretizar isso. Minha mente pensa em esplendor, brilho, luz, mas isso é pouco traduzível a meu ver. Observando mais aquele momento, percebo que o Mestre recebe a companhia representativa de Elias e Moisés, ícones dos Profetas e da Lei, que atestavam o cumprimento de toda a escritura em Jesus. Estava muito bem acompanhado e referendado, é verdade.
Mas, será que há algo mais nesta manifestação a nos ensinar sobre Jesus? Tenho pra mim, que há um ensinamento a mais aqui. Tanto Elias quanto Moisés tiveram contato muito pessoal com a glória e a presença de Deus.
Elias obteve essa experiência principalmente quando foi assunto ao céu, à presença permanente do Senhor, tomado por um redemoinho e uma carruagem de fogo. Naquela ocasião, Eliseu estava com ele e exclamou: “Meu pai! O Senhor foi como os carros de guerra de Israel e seus cavaleiros”. E dizem as escrituras que nesse momento Eliseu, como discípulo de Elias, recebeu porção dobrada de seu espírito. Uau! Acho que há uma revelação a ser descoberta pelos discípulos de Jesus. Ele seria, depois de Sua morte e ressurreição, elevado ao céu, devolvido a toda a Sua glória, mas não deixaria os Seus discípulos órfãos. Eles receberiam de Seu Espírito, Sua autoridade, e fariam obras maiores do que Ele fez, segundo posteriormente Ele mesmo compartilhou com os Seus amigos (Mateus 28:18-20).
A glória de Jesus, aqui, me fala de Sua autoridade e poder, também delegados aos Seus seguidores, por meio de Seu Espírito.
Já Moisés me fala de uma outra face da glória de Deus. Lembro dos episódios do Monte Sinai, quando Moisés recebeu pela segunda vez as tábuas da Lei, os mandamentos de Deus. Seu rosto resplandecia de tal forma que causava medo às pessoas (Êxodo 34). Mas antes de receber definitivamente a Lei, Moisés teve uma experiência ainda mais marcante. Após o episódio idólatra do bezerro de ouro, quando Deus disse que retiraria Sua presença direta guiando o povo, para não destruí-lo, por causa da dureza de seus corações, Moisés entra em um diálogo crítico com Deus: “Senhor, se Tu não fores, eu não tenho como ir. Se Tu te agradas de mim para guiar o Teu povo no deserto, eu careço da Tua presença.” E Deus se compadece de Moisés e atende o seu pedido.
Moisés pede, então, a confirmação da presença, da glória de Deus entre eles. E Deus diz que faria passar diante de seus olhos toda sua bondade. (Êxodo 33:19). Uau! Um fenômeno isso: outro aspecto da glória de Deus, a Sua bondade.
Pra mim, então, a presença de Moisés no Monte da transfiguração se dá atestando a bondade de Jesus, Sua perfeição, o único capaz de agradar plenamente o Pai, o único capaz de cumprir a Lei em toda sua extensão: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
E nesse momento, o Pai testifica: “Esse é o meu Filho amado, nEle tenho prazer completo, dEle me agrado plenamente! Ouçam-No! Ele é o único que pode revelar a vocês toda a minha bondade e perfeição! A Ele segui!” (vs.7).
Jesus é o Bom, é o Cara. Só Ele é. Eu não sou, você não é, nós não somos, vocês não são. Mas Jesus é e, por isso, é o único caminho para agradarmos a Deus e manifestarmos neste mundo, de alguma forma, a Sua glória, e pra isso fomos chamados a segui-lo como discípulos.
Muito bom esses comentarios, vai servir de ajuda durante muito tempo e para muitas pessoas…
Abraço
Alan Corrêa
Cada semana, venho sendo mais edificada pela palavra de Deus e por seus comentários, nos capítulos 9 e10 fico sempre impactada com a parte que fala do reino: Quando estavam querendo uns serem melhores que os outros e o Senhor exemplificou com a criança. Nossa!!! E entre outras passagens que me edificaram…tenho obtido muito crescimento pela palavra.
Os acontecimentos finais do capítulo 8 e iniciais do capítulo 9 deixaram os discípulos cheios de indagações, especialmente os três que acompanharam a transfiguração de Jesus.
Eles indagavam entre si sobre a notícia da ressurreição, sobre a vinda preparatória de Elias etc. E Jesus tenta, naquele momento, fazê-los focar nos passos seguintes que viriam: seu sofrimento e morte.
Novamente, eis a pedagogia da pergunta. Uma questão fica ecoando na cabeça dos discípulos: “Mas porque está escrito que é necessário que o Filho do Homem sofra muito e seja rejeitado?” (vs 12).
Em outras palavras, Jesus tentava fazê-los focar no tempo presente, com todas a suas implicações.
Antes dele, deveria vir Elias. Já tinha vindo, no cumprimento do ministério de João Batista. Com a vida deste, deveriam aprender que muitas vezes fazer a vontade de Deus implica em rejeição e sofrimento, é o que Jesus lhes fala: “Elias já veio e o maltrataram como quiseram.” (vs 13).
Depois, viria a ressurreição. Sobre esta, Jesus nem discute com eles, pois não estavam aptos para compreender naquele momento.
Jesus foca no hoje, período de preparo para vivenciar um tempo de sofrimento, de crises de fé, de reopções de entendimento sobre o Reino de Deus: era preciso que Jesus fosse rejeitado, sofresse e padecesse em morte de cruz, e isso era contrário ao reino que eles esperavam, de um salvador para a condição sócio-político-religiosa em que viviam.
Uma das dificuldades que temos em andar com Jesus diz respeito ao entendimento de Seus tempos pra nós. Temos a tendência de focar no que passou ou no que esperamos que aconteça.
Quanto ao passado, Jesus nos ensina que não devemos nos fixar no que passou. As coisas velhas já passaram: “Esqueçam o que se foi; não vivam no passado” (Isaías 43:18); “… uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo…” (Filipenses 3:13). O passado deve existir como memória que nos auxilie a viver e caminhar no presente, resgatando o que de bom e de ruim permanece de cada situação vivida. O passado, portanto, é educativo.
Quanto ao futuro, este definitivamente não nos cabe, a não ser como possibilidade e meta que alimenta o nosso presente ao gerar um princípio de realidade que o guie. O futuro se constrói no presente, bem vivido ou não. Não há como experimentar ressurreição, sem viver sofrimento e morte. Não dá pra pular etapas.
Estamos dispostos a pautar nossa caminhada com Jesus vivendo diariamente com fé, coragem, sabedoria e obediência, independente do que já passou e do que virá? A resposta a esta pergunta define nosso posicionamento permanente sobre a vida no tempo que se chama hoje.
Bem, depois da experiência fascinante da transfiguração, os três discípulos (embora Pedro tenha sugerido isso) não poderiam ficar acampados no cume do monte, só em estado de contemplação. Esta não era a missão deles. A contemplação tem seu lugar como fonte de reabastecimento para enfrentar os desafios de estar no mundo.
Eles deveriam voltar ao vale e lidar com todas as demandas próprias da caminhada na disseminação do Reino.
No vale, tiveram que: lidar com suas dúvidas e crises de fé, pessoais e como grupo (vs. 9-13); suportar as mesquinharias e questionamentos infundados dos religiosos de plantão (v. 14); e ainda atender às grandes necessidades da multidão que estava sedenta da manifestação do Reino. A lida continuava.
E aí se dá o episódio da cura e libertação do filho endemoninhado de um homem, que se manifesta em meio à multidão.
O mais interessante de tudo é que os discípulos já haviam tentado curá-lo e não tinham conseguido. Isso me faz perguntar sobre por que eles não conseguiram, já que haviam vivenciado os frutos da missão, como narrado no capítulo 6.
Algumas hipóteses podem ser levantadas a partir do texto mesmo: em primeiro lugar, parece-me que quem não havia conseguido realizar o milagre foram os discípulos que não estavam no monte com Jesus (v.14). Isso me sugere que, para cumprir a missão, não podemos perder de vista a presença do Mestre. A multidão busca e espera pelo caminho de Deus, e só tem um (v.15).
Mais: esses discípulos estavam ocupados discutindo com os religiosos. Esse não era um modelo que viam em Jesus. Jesus driblava os religiosos, não entrava no jogo de disputa com eles. Também não se afugentava. No tempo devido para seu sofrimento físico e morte, ele mesmo se entregou. Jesus gastava tempo com a multidão sedenta e com Seus seguidores, a quem desejava ensinar. Mas aqueles discípulos estavam distraídos da figura do Mestre, dando atenção aos mestres da lei, e nada conseguiram com isso, a não ser perderem tempo.
E, finalmente, o próprio Senhor traz respostas à questão: em primeiro, falta de fé (v.19), que a meu ver tinha estreita relação com a atitude dos discípulos, como tratado acima. Em segundo, Jesus explica: “Essa espécie só sai com oração e jejum”.
Ah, essa resposta de Jesus me incomoda, me faz ficar ligada. Sabe por quê? Jesus já havia tratado, no capítulo 2, acerca do jejum, como prática religiosa. Aliás, penso que o jejum tem mesmo algum valor de espiritualidade, uma vez que é prática recorrente em muitas religiões. Tenho pra mim que, quando nosso organismo é privado, mesmo que temporariamente, do uso de uma de suas funções, ele desvia essa “energia vital” para outras capacidades de funcionamento do corpo, como a atenção, a concentração etc. Talvez seja esta a importância da prática em si.
Mas, Jesus, por tudo que havia ensinado até agora, não estava nem um pouco preocupado com práticas externas e sobre o jejum já havia dito que enquanto o Noivo, Ele mesmo, estava presente, ela não era uma prática necessária.
Então só me resta buscar outros entendimentos para isso de que Jesus falava. E me vem a mente o texto de Isaías 58, onde as escrituras nos ensinam qual tipo de jejum agrada a Deus. O texto diz: “…no dia do seu jejum, vocês fazem o que é do agrado de vocês… Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas?… O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo o jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada… você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou!”
Mais do que uma prática religiosa externa, Jesus falava de uma atitude do coração. Talvez os discípulos estavam tentando curar aquele rapaz para mostrar à multidão e aos mestres da lei que estavam com a bola da vez, e não por compaixão daquela família. O foco era egocêntrico, voltado para eles mesmos e seu sucesso diante de outros. E aí, eles não foram bem sucedidos naquela empreitada.
Diante disso, só posso orar clamando a Jesus que sonde minhas motivações e intenções a cada dia, para que lhe apresente uma fé que lhe agrada: busca os Seus interesses e de Seu Reino e daqueles a quem Ele ama e deseja abençoar.
Como aquele pai angustiado que clamava por ajuda, confesso: Senhor, tenho esta fé, mas ajuda-me a vencer o que ainda tenho de incredulidade.
Sei que Ele deseja atender a esse clamor e é compassivo com nossa total incapacidade de agradá-Lo com base em nós mesmos.
Os discípulos de Jesus, porque vivenciaram muitas experiências fascinantes com Ele e a partir do encontro com Ele, inclusive a experiência de serem poderosamente usados por Deus para abençoar pessoas, estavam vivendo um tempo de grande tentação.
A meu ver, isso já vinha se configurando desde as últimas cenas do capítulo anterior. A motivação para o serviço estava embaçada pelo próprio entendimento equivocado sobre o Reino de Deus.
Agora, eles discutiam e questionavam entre si sobre posições no Reino, e cada um queria ser o maior, o que ocupava lugar de mais destaque. Ao longo do capítulo 9 e 10, Jesus vai tratando essa chaga gradativamente. Primeiro quando eles são derrotados no episódio do menino endemoninhado. Depois no diálogo pedagógico, na intimidade do relacionamento que estabeleceu com os mais próximos.
Então, Ele começa a ensinar os valores do Reino, que têm uma lógica de funcionamento oposta a do sistema de valores humanos reinantes e crescentes neste mundo.
O primeiro aspecto importante é: se alguém quer ter destaque no Reino de Deus, precisa estar disposto a ocupar o lugar daquele que mais serve em benefício dos outros. A grandeza no Reino é inversamente proporcional à sujeição a uma atitude de serviço (9:35), às vezes aos olhos humanos desavisados, até humilhante, como foi o caso do próprio Jesus, que se doou à morte, e morte humilhante de cruz, em favor do mundo inteiro.
Em segundo lugar, a grandeza no Reino está associada ao serviço aos mais frágeis e desprovidos de defesas: “quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo” (9: 36-37). Não está relacionada a ocupar cargos de posição ou não entre poderosos. Ocupar esses cargos não é o problema, desde que esse lugar seja para proveito de abençoar em amplitude maior e cada vez mais os pequeninos.
Em terceiro: a grandeza no Reino não está associada a pertencer a um grupo A ou B, que arvora para si a detenção do relacionamento exclusivo com Deus (9:38-41). Acredito piamente que no “tempo” dos novos céus e nova terra, vamos nos surpreender por encontrar muita gente que achávamos não tinha a ver com o Reino e vamos nos chocar por ver outros que falavam tanto em Jesus, mas não terão lugar ali. Por isso, hoje, não nos cabe julgar pessoas, mas suas mensagens, por meio de palavras e obras, e a relação destas com a Palavra de Deus.
Em quarto: ser grande no Reino de Deus implica em atitude de total dependência a Ele, como uma criança que não questiona, mas se ajusta à condição de plena autoridade do Pai sobre ela (10: 13-16), o que é o oposto do que o coração humano orgulhoso deseja.
Finalmente, mas sem esgotar a questão, ainda no capítulo 10 (35-45), Jesus é abordado por Tiago e João, com um pedido para se assentarem ao Seu lado no Reino. Não tinham entendido quase nada ainda, hein, vamos falar…
Jesus retoma o princípio que apontei em primeiro lugar: a grandeza está associada à posição de maior serviço, maior doação. E Jesus profetiza sobre o sofrimento e a morte que aguardava Seus discípulos no futuro, pois serviram até à morte também, e mortes por amor ao Evangelho.
Então, Ele mais uma vez ensina que, no Reino, não há domínio de uns sobre os outros, há o serviço de uns aos outros. É uma lógica inversa. Por isso, há tantos mandamentos de reciprocidade no Novo testamento: amem-se uns aos outros, sirvam uns aos outros, orem uns pelos outros, aconselhem-se mutuamente etc. Quando disponibilizamos o que temos recebido de Deus para abençoar a outros e nos dispomos a receber de outros igualmente o que têm recebido de Deus, o Reino está em franco funcionamento, ele está entre nós (Lucas 17:20-21)! Uau!
O Reino é visível por meio de um relacionamento de serviço mútuo, não por meio de progressos numéricos aparentes, não por posições de destaque, não por exercício de poder ou domínio.
Precisamos nos apropriar a cada dia dessa lógica, se queremos ser úteis e prósperos no Reino de Deus. Prossigamos em alcançar cada vez mais esse entendimento e viver o Reino. “Venha a nós o Teu Reino!”, Jesus nos ensinou a orar.
O capítulo 9 termina com a tese dos tropeços na caminhada. Segundo Jesus, podemos identificar duas fontes básicas de tropeço: uma que infringe tropeço a outros (vs.42) e outra que é permitida em nós mesmos (vs.43 a 47), com possíveis consequências para outros também.
Quanto ao primeiro caso, isso acontece todas as vezes que nossos passos deliberados e escolhas na caminhada atravancam o caminhar de outros mais simples e inexperientes em seguir a Jesus. O segundo aspecto, diz respeito às nossas condições pessoais, que podem nos fazer tropeçar na caminhada e andar com dificuldades para segui-Lo.
Em relação ao primeiro caso, de caráter eminentemente ético, porque envolve a escolha de prejudicar a outros ou não, o ensino do Mestre é de que devemos, de antemão, não permitir que venha a acontecer. Esta escolha deve ser anterior à possibilidade, ainda que não estejamos livres de cair nesses erros. O mais importante é, como cristãos, manter o desejo veemente de não cometê-los. Isso deve estar assentado no coração. As pessoas, sejam elas quem for, são sempre mais importantes que qualquer interesse ou necessidade egoísta.
No segundo caso, o motivo do tropeço já está presente: são as nossas próprias limitações e idiossincrasias, que nos movem a pecar, trazendo conseqüências para nós mesmos, e até a outros, e nos mantêm arrastando na caminhada com Jesus.
Esses aspectos motivadores são pessoais, variáveis de pessoa para pessoa. Por isso, Jesus começa a listagem deles usando uma conjunção de condição: se o teu pé, se a tua mão, se o teu olho etc. Há uma dimensão aqui que não é regulável por normas e padrões. Tem a ver com a singularidade de cada um. Às vezes, diz respeito até a aspectos que ficam em um limiar de neutralidade quanto ao que é “certo e errado”. Sobre esses aspectos, gosto de pensar como Paulo, em Romanos 14, quando diz “cada um deve estar plenamente convicto em sua própria mente”. Se falta convicção, liberdade e paz de prosseguir com Jesus vivendo determinadas situações, isso é um sinalizador de que alguma coisa na caminhada não vai bem. Então, não devemos ser tardios em abrir mão dela. É melhor entrar no Reino de Deus sem ela.
E Paulo ainda esclarece, ”… o reino de Deus é justiça, paz, alegria no Espírito Santo; aquele que serve a Cristo assim é agradável a Deus e aprovado pelos homens” (14: 17-18). Essa afirmativa de Paulo parece se afinar com o que está posto ao final do capítulo 9 de Marcos: “O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros.” A paz parece ser um grande sinalizador e aliado na identificação desses aspectos muitas vezes controversos.
O padrão de relacionamento de Jesus no que diz respeito ao relacionamento com Deus, com a gente mesmo e com o próximo é elevado, sempre. Ele nunca vai descer ao nosso nível humano, mas quer nos fazer caminhar na direção da imagem e padrão dEle mesmo. E Ele é capaz de levar a bom termo a obra que começou em nós, se o permitirmos.
É o que se percebe na discussão seguinte com os fariseus sobre o divórcio. Buscando testá-lo em Seus valores, eles trazem uma questão controversa: “O divórcio é permitido?”
Jesus continua o diálogo, descendo ao nível do que eles podiam entender, com uma nova pergunta: “O que disse Moisés a respeito?” “Ah, Moisés o permitiu.” Então, Jesus esclarece que a permissão veio pela dureza dos corações humanos. E não discute o padrão de Moisés, que tinha um fundamento humano, necessário às necessidades de homens e mulheres decaídos, reais, imperfeitos. Entretanto, desvia a discussão para o desejo primeiro de Deus ao criar o homem e a mulher e uni-los numa relação de unidade e reciprocidade. Sobre essa relação, ninguém provoque separações, disse ele, porque ela é prezada por Deus que a criou. Este é o padrão, o ideal de Deus pra nós.
Todo o relacionamento humano, inclusive o casamento, é quebrado pela dureza do nosso coração. A quebra acontece, mas não é o ideal de Deus. As separações conjugais, por exemplo, acontecem não pelo divórcio. O divórcio em alguns casos é até um paliativo humano para elas. Acontecem pelo egoísmo, escolhas com motivações erradas, rejeição, indiferença, divisões, competições, ódios, raivas, amarguras e outras situações que nos afastam uns dos outros. Por isso, vale lembrar a sentença final do capítulo 9: “vivam em paz uns com os outros”. Paulo usa a expressão: “Façam todo o possível para viverem em paz com todos” (Romanos 12: 18). Em outras versões: “No que depender de vós, tende paz uns com os outros.” Às vezes para viver em paz, até o afastamento físico é necessário, por causa da dureza dos corações envolvidos, ou de um ou outro.
Mas em tudo isso, “seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações” (Colossenses 3: 14), diz a Palavra.
Meu desejo é que prossigamos, naquilo que depende de nós, na busca da paz com todos: com Deus, conosco mesmos e com os que estão ao nosso redor, às vezes que nem conhecemos, mas que precisam ver em nós um espelho do Príncipe da Paz, que é Jesus.
Pra encerrar a sessão dos capítulos 9 e 10 (porque o Marcos Botelho já até postou o vídeo dos 11 e 12, e eu tô sempre atrasada), não poderia deixar de comentar um último aspecto que me chama a atenção.
Na verdade, a meu ver, este é o foco da sessão toda: o preço elevado do discipulado.
Pra mim, não é à toa que o capítulo 10 traz dois episódios ao final muito interessantes: um, do jovem rico; outro, do cego Bartimeu.
A narrativa do jovem rico é muito esclarecedora quanto à temática de toda a sessão.
Um primeiro aspecto que sobressai, é que aquele jovem realmente estava com sede de respostas a anseios espirituais. Ele correu em direção a Jesus. Viu nEle um possibilidade de achá-las. E quando ele O cumprimenta, diz: Bom Mestre, o que devo fazer para ter a vida eterna? Havia um nível de insatisfação existencial ali. E Jesus, como lhe é peculiar, responde com uma pergunta.
Na minha caminhada de reflexões sobre a Bíblia, tenho aprendido que, quando Jesus faz uma pergunta, aí tem coisa. E Jesus perguntou: Por que me chamas bom? Bom, só tem um, que é Deus. Em outras palavras: Você realmente está me vendo como eu sou? Como Deus presentificado aqui? E como fonte única de toda real bondade e vida eterna?
Mas Jesus não espera resposta, ele continua, ele mesmo, o processo de levar aquele homem a refletir sobre os caminhos de seu coração. E agora afirma, não mais pergunta (porque sabia que era um jovem que buscava ter uma vida reta, do ponto de vista moral, conhecia o seu coração): “Você conhece os mandamentos”. E começa a citá-los.
O jovem confirma que conhece e segue-os desde pequeno.
Jesus olha pra ele, tem compaixão, porque sabe que é verdade o que ele afirma, mas sabe também que o que ele pediria em seguida traria àquele rapaz uma crise de fé: “Então, só falta uma coisa: vai e vende tudo o que tem e me segue”. E o jovem não foi capaz de dar aquele passo radical.
Cacetada! Vamos falar sério: Jesus pegou pesado aqui. É o que eu acho, vc também, toda a torcida do flamengo e até os discípulos que estavam com ele. Mas o fato é que é difícil seguir a Jesus, mesmo. É difícil, não: é impossível, os discípulos concluíram, após presenciar aquele desafio radical.
É mais do que cumprir regras e mandamentos. Aliás, se a Lei, como Paulo afirmou em Romanos, veio pra mostrar a incapacidade humana de cumpri-la, o discurso de Jesus dá de dez a zero na Lei.
Olhando o sermão do monte, quando discorre sobre alguns preceitos legais, Jesus cita um mandamento, de acordo com a Lei de Moisés, e depois diz: “Porém eu lhes digo… A Lei de Moisés diz: Não matarás. Se alguém matar deve ser julgado. Eu porém lhes digo, basta que vocês alimentem ódio contra seu irmão e já serão julgados”. Uau! Miserável mulher que sou (diria a versão feminina dos escritos de Paulo, em Romanos 7). Mas o próprio Paulo prossegue nos trazendo um achado: Graças a Deus, por meio de Cristo Jesus! Temos esperança! Nada é impossível para Deus!
Seguir a Jesus é mais do que cumprir mandamentos: é uma entrega incondicional, a qualquer custo, com o reconhecimento de que a condição de fazê-Lo é muito superior a nós, está nEle.
O jovem queria a vida eterna. Em João 17: 3, Jesus ensina aos Seus amigos que a vida eterna é uma pessoa: Emanuel, Deus conosco! Só podemos agradar a Deus, Jesus estando em nós. Só podemos entrar no Reino por Seu mérito e graça. É graça mesmo. É graça sempre, de qualquer forma.
Jesus continuou estendendo graça sobre aquele jovem que se distanciou dEle, como estendeu graça aos Seus discípulos para continuarem a segui-Lo, mesmo sem entenderem e até concordarem muito naquela situação. A questão é: que graça vamos desejar? A graça para quando nos distanciarmos dEle ou a graça pra fazer o que Ele nos manda? Eu, como sou fominha, quero as duas: graça sobre graça. Porque enquanto estiver aqui, sei que vou viver as duas situações, mesmo decidindo segui-Lo.
Às vezes, Jesus vai nos pedir entregas de coisas que são as mais preciosas pra nós, porque elas precisam estar em um patamar correto na caminhada. Ele quer ressignificar o lugar que elas têm na vida da gente: temos riquezas, que elas sirvam a outros, por exemplo. Estamos dispostos a isso?
Em contraste, aparece ao final a figura do Bartimeu. Era cego, pobre, não tinha nada a perder, que já não tivesse perdido, pelo jeito. Quando ele soube que Jesus estava ali, começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, Messias, o Prometido, ó eu aqui! Tem misericórdia de mim!
E o povo mandava ele calar a boca: Que inconveniente, você! Que escândalo! Que exagero! Presta atenção! Você está perturbando todo mundo! Não tem vergonha de nos incomodar a esse ponto, não?
E quanto mais mandavam ele parar, ele gritava mais alto ainda.
Puxa, eu gosto desse cara.
Sabe por que ele não parava? Porque ele precisava de Jesus, mais do que de tudo e de todos. Sua bênção e cura estavam em Jesus, e ele não queria perder isso por nada. Ele era desesperado por aquela presença. O que seria dEle se Jesus não o visse, não o ouvisse, não o alcançasse. E quando Jesus o chamou, ele deu um pulo, de pronto, não pensou duas vezes.
Penso que a nossa capacidade de entrega está diretamente relacionada ao nosso grau de necessidade. Se estamos preenchidos com realidades desta vida aqui, suficientemente, somos tardios em buscar a Jesus de todo coração. As necessidades, de todas as ordens, são boas aliadas e mestras neste sentido. Por isso, as bem-aventuranças: felizes os pobres, os que têm fome e sede, os humildes, os que choram etc…
Ah, eu quero um coração desesperado por Jesus assim, a despeito do que pensem de mim (até rimou)! Não é muito popular, não, mas vale a pena.
Jesus disse que ninguém que entregue preciosidades nesta vida, por amor a ele, não vai deixar de ganhar muito mais aqui mesmo, nesta terra. É verdade que ele acrescenta ao final da sentença “e com perseguições” (10:30). Bem, ônus e bônus. O pacote é completo. Mas eu quero! E você?
Uma das lições que tiro desses capitulos é a cerca das nossas necessidades e da forma que Deus vai de encontro a elas. Deus não olha nossas vontades, mas sim as vontades dele para nos, ele faz em nossas vidas o melhor, mas no tempo e para a glória dele, foi assim com o menino endemoniado e com o cego. Mas em Deus podemos sempre ter a certeza de que não importa quanto tempo esperaremos a vontade dele se cumpre em nossas vidas. Outra lição importante é sobre a humildade e o amor ao proximo, Jesus nos ensina a servir ao nosso irmão para alcançarmos o seu reino, e que lição maravilhosa.