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Vamos lá encarar os capítulos 11 e 12, hein, Marcos Botelho.
Muito legal toda a contextualização político-religiosa que você traz, Marcos. Muito esclarecedora pra leitura desta sessão.
Acho interessante que, em algumas versões que intitulam partes dos capítulos bíblicos, a sessão inicial do capítulo 11 é denominada “A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”. Jesus estava indo ali pra morrer, mas teve uma entrada “triunfal”. É bem verdade que não em si mesma, uma vez que ele entrou, além de pra morrer, acompanhado de uma multidão de carentes de todas as ordens, montado num jumento, que não era nem dele, e ainda sob os olhos atentos da corja de religiosos que não desgrudavam. Cá entre nós, de triunfal tinha pouco.
Mas alguns aspectos de triunfo eu vislumbro nesse momento.
O primeiro deles é o fato de que Jesus manda Seus discípulos buscarem um jumento emprestado na casa de pessoas que possivelmente só haviam ouvido falar dEle, nem O conheciam de fato. E aqueles proprietários do animal, cedem o jumento, sem questionar muito: “Ah, é pra Jesus? Pode levar. Não estou entendendo muito, não, mas pode levar.”
Esse desprendimento pra mim é triunfal, porque coloca Jesus no Seu lugar de direito. Jesus falou, tá falado. Eu faço. Ele é o Cabeça.
Outro aspecto triunfal, a meu ver, diz respeito à necessidade de evidenciar no texto que ninguém havia ainda montado sobre aquele jumento. Tenho pra mim que vemos a ideia da primazia dada a Jesus sobre todas coisas. Ele é o primeiro. Dele é o primeiro lugar. “Buscai pois em primeiro lugar o Reino e a Sua justiça…” Quando damos o primeiro lugar a Jesus, sobre tudo e todos, a entrada dEle se faz triunfal realmente.
Por fim, me chama a atenção o fato de que os discípulos tiveram que dispor de seus mantos para Jesus assentar-se sobre o jumentinho emprestado (vs7) e a multidão igualmente dispôs os seus mantos cobrindo o terreno por onde ele passou, além de ramos campestres (vs.8).
Isso me fala de um despojamento pessoal, de uma entrega, de um desvelar-se, desnudar-se, expor-se, dar de si mesmo, espontaneamente, de forma generosa, amorosa, com tudo o que temos e somos, ofertando-se como pessoa, pra ver Jesus passar.
Gosto da passagem da carta de Paulo aos Coríntios, quando fala dos irmãos da Macedônia, que eram ricos em generosidade. Davam, além das ofertas materiais necessárias, principalmente de si mesmos. (II Coríntios 8). Puxa, isso é triunfo! Além de um trunfo contra o maligno!
Creio que quando há desprendimento de vontade, prioridade e generosidade, Jesus pode passar com triunfo mesmo.
Lembro de um hino antigo do Cantor Cristão: “Cristo vai hoje passar, passar, passar… Passar de amor transbordando, todos a si convidando. O Mestre vai hoje passar, sim hoje ele vai passar”.
Meu desejo é que meu coração e minha vida possa ser um terreno propício por onde ele passe, triunfalmente, sempre.
Isso me comove, porque acredito que Jesus só passa por onde essas coisas de fato acontecem. Onde há desprendimento, prioridade e generosidade individual e coletiva para a obra de Jesus se cumprir, ali a presença de Jesus, em Seu Corpo, pode transitar, a Igreja aparece, o fluir do amor se concretiza e a glória de Deus é revelada: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana a Deus nas maiores alturas”.
O nome de Deus é exaltado e glorificado. E é Ele mesmo que precisa em tudo ser honrado.
Glória a Ele na vida da Igreja, sempre, em todos os cantos da Terra.
Busquemos isso com perseverança.
O capítulo 11 continua com Jesus a caminho de Jerusalém, aclamado pela multidão.
Quando chegou ali, foi direto ao templo e observava o que se passava na Casa de Deus. O templo era sede dos acontecimentos político-religiosos dos judeus. Ali Ele se deu conta e avaliou mais de perto o quanto o Seu povo estava distante dos caminhos do Pai.
Mas o primeiro momento foi só de diagnóstico, de avaliação da situação. No dia seguinte, Jesus volta ao templo e agora não mais observa. Age contundentemente denunciando com violência a mercantilização presente na Casa do Pai.
Tenho pra mim que Jesus revela nesse ato uma faceta da glória de Deus que a gente não está acostumado e não gosta muito. Faz-me pensar em uma expressão muito presente em toda a Escritura, referindo-se ao próprio Deus como um “fogo consumidor”. Lembro-me especialmente de Malaquias, quando o profeta fala sobre Jesus e Sua vinda. Ele diz (cap.3): “O Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, que vocês desejam, virá… Mas quem suportará o dia da sua vinda? Quem ficará de pé…? Porque ele será como o fogo do ourives e como o sabão do lavandeiro. Ele se assentará como um refinador e purificador da prata…” Não são metáforas muito próximas à nossa realidade, mas o fato é que Jesus visitou o templo, a casa de Deus, para purificar o Seu povo das práticas de injustiça daquela época.
Creio que Ele visita o Seu povo ainda hoje, com o mesmo toque purificador. Somos templo do Espírito, individualmente e como Igreja. Somos povo do Senhor. A carta aos Hebreus em muitos momentos fala das advertências de Jesus à Sua Igreja quanto a isso. Vale a pena reler.
Paulo também fala sobre as mesmas coisas aos Coríntios, no capítulo 3. E, discutindo sobre as divisões na Igreja, adverte a que cada um veja como está construindo a obra de Deus: se usando ouro, prata, pedra preciosas, madeira, feno ou palha, pois a qualidade da obra vai ser revelada pelo fogo, no tempo devido, que só Ele sabe qual é.
Não temos que olhar e julgar como outros estão construindo, mas como cada um de nós está. O que traz divisão é quando nós julgamos a obra do outro e não a nossa. O bom é deixar que Jesus julgue a obra de cada um, porque Ele faz isso, usando Sua própria Igreja muitas vezes, como canal de promoção da justiça aqui. Ele sabe o melhor canal para realizar o que Ele quer, como Cabeça.
A ira de Jesus naquele momento em Jerusalém nos mostra o zelo de Deus para com o Seu povo, Seu santuário, onde Ele habita.
Hoje, Ele não habita em templos feitos por mãos de homens. Ele habita em homens e mulheres que nasceram de novo e juntos constituem o Seu povo, Seu Corpo aqui na terra, e que trabalham coletivamente na edificação desse edifício, em todos os lugares e tempos, desde que Jesus veio.
O alicerce é o próprio Senhor mesmo, não há outro fundamento (Efésios 2:19-20). E somos chamados a edificar a morada de Deus, sobre esse alicerce, com a mesma qualidade do alicerce, para que o edifício como um todo esteja bem assentado.
Cada um, então, veja como o edifica. Sua obra vai ser provada pelo fogo. Se não tem resistência ao fogo prescrutador, consumidor, revelador, observador de Jesus, não vai permanecer, não. Não pela ação de nenhum homem ou mulher, mas do próprio Deus. Até usando homens e mulheres inspirados por Ele, sim, porque somos a Sua presença hoje aqui, mas nossa ação só é produtiva se vier do Senhor, seja com a expressão que for. Porque o zêlo de Deus por Sua Casa é real.
Muito desse zelo só vamos contemplar no dia do juízo, ao final. Mas hoje Deus está operando isso de muitas formas também. Temos que crer nisso. E muitas vezes seremos até um canal para que isso aconteça. Bom, cada um faça o que Deus chamou pra fazer e faça em nome de Jesus, em concordância com Ele, que é o Cabeça.
Jesus disse que estaria edificando Sua igreja e que ela seria uma Noiva pura e bem ornamentada para recebê-Lo quando Ele voltasse. Ele está fazendo limpezas e preparativos com muita presteza e refino, e de muitas maneiras.
Isso me traz alegria, Mas também muito temor, porque tudo que promovo com minha vida e palavras, buscando a edificação da Igreja de Jesus e o estabelecimento do Reino de Deus vai passar pelo fogo também. Peço a Deus que o meu serviço, por menor que seja, tenha a mesma qualidade do fundamento. Nisso, terei permanente alegria.
Deus te abençoe pastor Marcos, gostei muito de seu “estudo” sobre o evangelho de Marcos, vc tem me dado alguns pontos de vista diferente, adoro o humor contido neles tambem, dou boas risadas.
que Deus possa continuar te abençoando.
Nos primeiros episódios em torno da chegada de Jesus a Jerusalém, o evangelho de Marcos entremeia a narrativa sobre a figueira a uma e outra chegada e volta da cidade.
Gostei, Marcos Botelho, do que você traz sobre a comparação entre a figueira e Jerusalém, aqui representando todo o povo judeu da época.
Penso que procede mesmo. No Antigo Testamento, especialmente nos livros proféticos, Deus compara Israel frequentemente a uma figueira. Jesus também em outro evangelho, o de Lucas (13: 6-9) explicita mesmo essa comparação.
Penso que vale a pena nos debruçarmos, então, sobre a figueira, para apreciar ainda mais esse episódio.
Um aspecto a considerar é que Jesus se dirigiu á figueira porque tinha fome e, como ela estava vistosa, cheia de folhas bem verdes, era de se esperar que ali também estivessem os frutos. E diz o texto que ele não encontrou frutos, porque não era o tempo deles. Então decretou: “Ninguém coma mais do seu fruto.”
Hum… Principalmente, meus olhos vêem que Jesus também tem fome. Eu, hein… De quê? Ele é Deus. Mas Deus tem fome de ver a Si mesmo manifestado no mundo que criou: amor, justiça, paz, alegria, esperança e tudo de bom que está concentrado Nele mesmo.
Em outro evangelho, o de Mateus (25:31-46), Jesus, falando de um tempo final de julgamento, dirá àqueles benditos do Reino: “Eu tive fome e vocês me deram de comer. Tive sede, e vocês me deram de beber.” “Quando fizemos isso, Senhor? “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram.” Uau! E Jesus ainda, no Sermão do Monte, diz que felizes são os que têm a mesma fome e a mesma sede que Ele. Legal, né? Eu quero ser feliz.
Jesus estava com fome ao entrar em Jerusalém e não teve sua fome saciada ali. O que ele contemplou foi uma enganosa aparência de produtividade. Muita folha bonita pra se ver. A figueira era vistosa e agradável aos olhos, mas não tinha frutos de fato.
A ausência de frutos me faz pensar no discurso de Jesus em João 15. Apesar de falar de outro gênero de árvore, a transposição é coerente: “Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” Hum, que achado!
Temos sido infrutíferos no Reino, às vezes até com boa aparência de cristãos saudáveis? Precisamos nos perguntar se temos permanecido ligados à fonte da seiva. Essa palavra tem me perseguido neste último ano: permanecer. Tá ruim? Tá difícil? Permanece! Tá sem entender? Tá sem contemplar o todo? Permanece!
E olha que até pra permanecer, a gente precisa da seiva: “Sem mim, NADA podeis fazer”.
Duro esse discurso. Por outro lado, aliviante. Tudo vem dEle e retorna pra Ele, mesmo. Eu só preciso me decidir diariamente, escolher ficar sempre ao lado dEle, com Ele. “Ele é a minha porção e a minha herança!” O mais, vem a reboque.
Mas a figueira ainda tem mais coisa a nos falar: Jesus entendeu que ainda não era o tempo daquela figueira dar fruto. Ih… Se Ele sabia disso, por que então decretou a esterilidade daquela árvore? Porque queria ensinar aos Seus discípulos que Ele sabia que Jerusalém e os judeus ainda não estavam no tempo de frutificar no Reino, porque Sua morte e ressurreição possibilitaria a extensão do Reino de Deus ao mundo inteiro e também aos judeus. Mais à frente, no capítulo 13, a figueira volta à pauta: “Quando vires a figueira renovando seus ramos e folhas, o verão se aproxima…” O tempo virá. Mas isso é comentário pra depois, né, Marcos Botelho. Basta a cada dia a sua quantidade de letras.
O importante é perceber que, tem o tempo de frutificar e esse tempo também é regido por Deus, se nos submetemos a Ele, se estamos conectados a Ele, se permanecemos nEle. Esta é uma escolha diária: cada um tome a sua cruz, negue-se a si mesmo. Negar-se a si mesmo, no meu entendimento, significa render a vontade. Deus não nos tira a vontade e a capacidade de escolha, porque nos criou para tomar decisões. O que Ele deseja ver é a nossa espontânea decisão diária de submeter nossas decisões e nossa vontade a Ele. Isso, Ele não faz por nós, em respeito mesmo à condição que nos deu, ao nos criar à Sua imagem e semelhança. Mas, felizmente, até pra fazer isso encontramos graça nEle. Isso pacifica meu coração.
Bom, o Marcos Botelho esqueceu de aceitar meu comentário de ontem, mas se eu perder o dia de hoje, eu fico atrasada. Então vou arriscar escrever assim mesmo.
A figueira realmente estava na ordem do dia nestes capítulos. Os discípulos deram atenção ao fato, talvez sem entenderem o seu significado pleno ainda, mas perceberam que algo especial estava sendo conduzido por Jesus naquela situação. E viram naquilo um milagre.
Então, Jesus aproveita o ensejo e começa a ensinar algumas outras verdades sobre a situação, que mais cedo ou mais tarde eles iriam entender.
Primeiro, além de entender que Jerusalém vivia de uma cultura de aparências que não agradava a Deus e que era necessário que seus frutos fossem estancados para em um outro tempo serem produzidos, os discípulos precisavam entender que poderiam, com fé, fazer ainda coisas maiores do que remover “montes” como aquele. Era preciso entender que Deus estava muito interessado em que isso acontecesse e era generoso para responder orações daquele tipo, que buscavam o Seu Reino.
Porém, Jesus deixa claro que existia uma condição para que isso se desse: os discípulos precisavam estar bem posicionados diante de Deus, com as motivações ajustadas, refletindo o caráter do próprio Deus. Foi quando ele falou do perdão, a necessidade de perdoar àqueles que nos ofendem, para que o canal de diálogo e acesso às respostas de oração esteja desimpedido.
Jesus atestava ali que sabia que cairia nas mãos dos religiosos judeus que o levaram à morte e que isso era necessário para “estancar” a figueira, para que todos os povos contemplassem o Reino por meio dEle e a montanha da religiosidade estéril e da aparente espiritualidade fosse removida por meio de Sua morte e ressurreição. Mas decidia liberar perdão, de antemão, aos que o maltratariam. Tanto assim, que na cruz Ele orou: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.
Ah, a dádiva e a liberdade de perdoar e ser perdoado deve ser uma busca constante. Perdoar, a meu ver, significa abrir mão de toda forma de vingança pessoal, em busca de satisfação egoísta, contra quem nos ofende. Jesus, que era perfeito, não fez uso de suas prerrogativas divinas para produzir nenhum tipo de perda aos homens que o condenaram, e poderia ter feito. Antes, Ele os amou, morrendo também por eles, intercedendo ao Pai por eles. Isso é bonito, agrada o coração generoso de Deus e abre caminho pra que Ele mova situações em favor daqueles que O buscam.
E olha que aqueles homens não davam trégua. Nem bem Jesus acabou de falar aquelas coisas, lá vinham eles questionando a autoridade de Jesus. E o Mestre estabelece com eles um diálogo tão sábio e inspirado que eles saem dali de calças curtas.
Pensando na questão da autoridade, Jesus não se deixa entrar no mérito das questões daqueles homens, porque ele sabia que eles não reconheceriam sua autoridade. Mas isso pra ele não era importante. Era parte dos planos divinos.
Tenho pra mim que o conceito de Jesus sobre autoridade espiritual é de uma manifestação da presença de Deus. Nenhum servo dEle tem autoridade em si mesmo. Por isso, se alguém está buscando a Deus de fato, seja em que parte do trajeto que isso se dê, ele não terá dificuldade de visualizar autoridade de Deus manifesta em Seus servos. Por isso, também, que no Novo Testamento, somos incentivados a nos sujeitarmos uns aos outros e aos “pais”, na Igreja. Sujeitar-se por reconhecer que, como parte do corpo de Cristo, o Espírito de Deus está presente ali, a autoridade do próprio Deus, então devemos dar atenção ao que está sendo manifesto de Sua presença a nós. É claro que há cristãos carnais que não estão andando com Jesus e não estão manifestando a presença dEle. É claro também que nenhum de nós é um canal totalmente cristalino por onde a manifestação de Deus se dê plenamente. Mas o Espírito também dá esse discernimento, se andamos em Espírito.
Bom é buscar viver essas verdades: não abrirmos mão de um perdão genuíno a quem nos ofende e sermos canal da manifestação da autoridade de Deus de uns aos outros e também para o mundo que anseia ver a manifestação dos filhos de Deus.
Vamos lá!
O capítulo 12 abre novas sessões de discursos de Jesus e começa com um parábola denunciadora da “esterilidade da figueira”, traduzida na história da vinha arrendada. Desta vez, Jesus mostra que apesar da insensatez religiosa de Seu povo, Deus nunca deixou de enviar profetas que falassem em Seu nome, mas eles sempre os rejeitaram, como rejeitariam o Filho também.
Isso me alegra o coração porque me lembra uma faceta de Deus que admiro muito: sua insistente bondade, que busca nos alcançar de tantas formas, mesmo quando somos ingratos, infiéis, inconstantes e distraídos com tantas coisas terrenas.
Gosto de uma expressão muito comum nos Salmos: “o amor leal de Deus”; em algumas versões “amor constante e fiel”. Alguns poetas já disseram “o Deus caçador”. É bonito isso: Deus ama, mas com um amor teimoso, que passa por cima de tudo que a gente faz que o desagrada e continua nos buscando para nos achegar a ele.
Nos evangelhos de Mateus e Lucas, quando Jesus estava vivendo esses episódios em Jerusalém, há o registro de uma fala muito bonita e doída da parte dEle: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados… Quantas vezes eu quis ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!”
Marcos Botelho, você já viu uma galinha quando está chocando? Tive o privilégio de acompanhar uma galinha chocadeira durante os dias de “gestação”, quando trabalhei como Educadora Ambiental em um dos parques de Vitória. A bichinha não arredava do ninho por nada. Muito ocasionalmente, ela se levantava dali e dava uma voltinha, pra esticar as “canelas”. Depois voltava, aprumava-se elegantemente sobre seus ovos e nada a distraía disso, até mesmo os maiores lagartos do parque, que ficavam à espreita dos ovos. Muito interessante. É assim que Deus tem prazer de cuidar dos que são Seus filhos e se permitem serem cuidados assim.
Mas Jerusalém não conseguiu ver isso.
E por causa disso, os político-religiosos da época continuaram fazendo armadilhas para enredar Jesus. A seguinte foi relacionada aos impostos. O texto é bem auto-explicativo e ao final Jesus responde com a célebre frase: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!”
Isso me remete à questão da dívida: Jesus não tinha dívidas de ordem nenhuma, com ninguém, e deixava pra nós também este ensinamento.
Paulo, em Romanos 13: 8, traz um apelo interessante nesse sentido: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei.” Puxa, isso é bonito! Do ponto de vista das coisas terrenas, não devemos dever nada a ninguém. Do ponto de vista do que é eterno, o amor (porque é a única coisa que vai durar eternamente; passarão a fé e a esperança, mas o amor permanecerá – I Coríntios 13), sempre vamos ser devedores. Imagino o Reino de Deus como um grande aglomerado de devedores de amor: primeiro a Ele mesmo e depois uns aos outros. Nada paga o amor, o amor é impagável. Quanto mais nos amamos uns aos outros, mais devedores somos uns aos outros. E aí a gente ama mais e se deve mais mutuamente. Não é legal? Eu gosto disso.
Mas a dívida do amor não é uma dívida que aprisiona, ela liberta e nos faz amar mais, nos doar mais, permitir ao outro ser fonte e canal de amor também, pra nós e pra outros, cada vez mais. É isso que Jesus faz conosco e é isso que Ele nos chama a fazer como Seus discípulos. Eu tô tentando.
O capítulo 12 continua com Jesus sendo ainda interpelado algumas vezes pelos religiosos da hora, preocupados em surpreendê-lo em alguma contradição diante do povo que O seguia. Vamos dizer: uma qualidade eles tinham, eram persistentes.
Na tentativa seguinte, a bola da vez estava com a facção dos saduceus, que trazem a questão da mulher que se casou com sete irmãos, uma vez que enviuvava de cada um deles, sem deixar filhos. E eles queriam um posicionamento claro de Jesus sobre a questão da ressurreição a partir dessa ilustração.
Jesus responde a respeito daquele assunto, dizendo que no céu não há casamentos e usando as escrituras para mostrar que Deus é um Deus vivo e de vivos.
Mas o que mais me impacta na resposta de Jesus é a afirmação de que aqueles homens desconheciam as escrituras e o poder de Deus, e isso eu tomo pra mim como um alerta.
Nesta afirmativa do Mestre, contemplo alguns aspectos importantes. Primeiro, podemos ser ignorantes mesmo a respeito da Palavra, pela falta de manuseá-la, praticar sua leitura, meditar sobre ela, estudá-la etc. E vou dizer que tem muita gente se dizendo cristão que vive assim. Isso é um grave erro. Jesus disse que isso era um problema. E é mesmo. Não temos como seguir a Jesus distanciando-nos das escrituras.
Mas, esse não parecia ser o problema daqueles homens. Eles conheciam as escrituras, mas faziam leituras equivocadas a respeito. Puxa, isso me faz pensar que transitar pelas linhas da Palavra requer muito cuidado, disciplina e, também, humildade para não cristalizar conceitos, que podem até estar mal fundamentados. Para isso, a ajuda permanente do Espírito de Deus e da Igreja, em suas múltiplas manifestações, é o canal para evitar grandes entendimentos equivocados. Apesar de que, ao longo da caminhada cristã, podemos construir entendimentos parciais a respeito de determinados aspectos das escrituras, próprios da condição de maturidade espiritual que já alcançamos ou não. E isso vai ser sempre assim, nesta vida, porque nunca atingiremos plenamente o entendimento de quem é Deus e Jesus, a quem Ele enviou. Sempre veremos parcialmente, mas deve ser uma condição parcial crescente até à eternidade, quando poderemos contemplar o Mestre face a face.
Mas, outro dado que se coloca é que, podemos conhecer as escrituras até razoavelmente, mas desconhecer o poder de Deus. E o que é o poder de Deus? Paulo em Romanos 1 diz que o Evangelho é o poder de Deus. Uau! É o poder de Deus! O evangelho não é uma mensagem a ser simplesmente decodificada, é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê. O evangelho, diz Paulo, é a boa nova de que Deus resolveu nosso problema, nos trouxe salvação, nos livrou de nossos pecados e da culpa que caía sobre nós, da nossa condição miserável de andar longe de Deus, e nos tornou verdadeiramente livres. Puxa! Que boa nova! Mas a salvação tem uma dimensão permanente. A fé que produz salvação deve ser processual: “O justo viverá por fé!” (vs17). Não teve só uma fé inicial, promotora de um novo nascimento em Jesus. A salvação não é um ato que acontece quando eu reconheço Jesus como a resposta de Deus pra mim. Essa é apenas a faceta pretérita da salvação. Hoje, no presente, devemos continuar sendo salvos, de nós mesmos sobretudo, de quem somos sem Jesus. É um ato contínuo de fé.
E virá a salvação futura, a redenção completa de nossos corpos mortais sujeitos à degradação natural humana que leva à morte. Seremos ressurretos, sim. Teremos uma nova casa, uma nova habitação, à semelhança de nosso Senhor.
Experimentar isso é experimentar o poder de Deus, é mais do que saber as escrituras ou até pregá-las. Aliás falar da Palavra por falar, pouco valor tem. Devemos pregar a Palavra com temor, porque, quando falamos sobre ela, Deus nos disseca junto, se é que temos o anseio de experimentar o poder de Deus. Ih… Abaixo a minha cabeça. Reverentemente.
Jesus nos adverte a não sermos como os mestres da Lei (Marcos 12:35-38): eles julgam conhecer as escrituras, mas de fato não as conhecem, nem o poder de Deus. Eles usam as escrituras e a pouca condição de discernimento das massas, para dominá-las e tirar proveitos particulares. Esses, disse Jesus, terão condenação mais severa.
Queremos fazer parte da galeria de homens e mulheres que estão vivos eternamente na presença de um Deus vivo? Precisamos conhecer as escrituras e o poder de Deus.
O capítulo 12 termina com dois episódios interessantes e, de certa forma, contrastantes.
O primeiro, diz respeito ainda a um diálogo que encerra a sessão de perguntas dos mestres da Lei. Um deles se aproxima de Jesus e Lhe pergunta sobre os mais importantes mandamentos.
Curiosamente, Jesus lhe responde diretamente, o que não era a atitude comum a esses casos, talvez porque visse nele algum grau de sinceridade na busca a Deus. E Jesus cita os dois grandes mandamentos, resumo de toda a Lei: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e com todas as suas forças; e ame o seu próximo como a si mesmo.”
Antes de citar os mandamentos, entretanto, Jesus cita o seu introito: “Ouça, ó Israel! O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor”. O mestre da lei elogia essa afirmativa de Jesus de que há um único Deus. E afirma que amar segundo os mandamentos citados é mais importante do que oferecer qualquer sacrifício ou oferta. Jesus, então, reconhece que aquele homem estava perto do Reino de Deus.
Estar perto do Reino de Deus é bom, mas o melhor é estar sob o Reino. Havia uma carência naquele homem: ele sabia que há um só Deus, mas não reconheceu que estava diante dEle. Ele não amou a Jesus como Deus.
Isso me faz pensar que podemos estar próximos a Jesus e ainda assim não reconhecermos quem Ele é plenamente.
Em contraste, vemos o relato da viúva ofertante. Àquela mulher, Jesus elogia, diante de tantos que depositavam suas ofertas no templo, porque ela se deu, deu de tudo o que tinha, ainda que aos olhos humanos tão pouco. Ela ofereceu “sacrifícios de amor”.
O mestre da Lei reconheceu que os mandamentos eram superiores a sacrifícios e ofertas, mas não viveu nem um, nem outro desses aspectos plenamente. Aquela mulher mostrou o seu amor a Deus com uma oferta agradável a Ele, porque ofertou tudo o que tinha.
Deus encontre em nós um coração sempre inclinado a ofertar amor a Ele e àqueles que nos rodeiam.