Mesmo com todas as experiências maravilhosas que Cristo já me deu gratuitamente, às vezes, na minha cabeça, vinha uma dúvida, um pensamento de incredulidade. Pensava: e se não existir nada depois da vida? E se depois da morte for tudo um breu, for o fim?
Por muito tempo, quando esse tipo de pensamento vinha em minha mente, eu repreendia e começava a cantar um canção de louvor para esquecer isso e continuar a vida. Mas de tempos em tempos esses questionamentos e incredulidade voltavam a me perturbar, como um fantasma que aparecia no meio da noite no meu quarto ou em dias chuvosos, e eu tinha que ficar quieto no lugar. Esse fantasma, além de me deixar com um sentimento de culpa, atrapalhava minha caminhada com Cristo.
Um dos filmes que mais me marcaram foi “Uma Mente Brilhante”. Conta a história de um gênio da matemática chamado John Nash (Russel Crowe) que consegue desenvolver várias teorias brilhantes ajudando o seu país. Mas ele sofre de uma esquizofrenia e tem alucinações com pessoas que não existem.
Com o tempo, Nash não sabe mais quem são as pessoas de verdade e quem são os fantasmas de sua imaginação. Isso começa a atrapalhar sua vida profissional e principalmente a pessoal. Quando ele tomava o seu remédio, os fantasmas sumiam, mas também sumia sua genialidade, seu diferencial como professor de matemática. No final da vida, ele precisa decidir em tomar o remédio e virar uma pessoa ordinária, ou viver com as consequências de ter os seus fantasmas e tentar fazer diferença no mundo com o seu dom.
Esse filme tem tudo a ver com os meus e os seus fantasmas, pois esse é sempre o nosso dilema, se vamos usar um remédio chamado religião onde “não vamos” mais ter os nossos fantasmas, ou vamos encarar de frente os nossos fantasmas na força do evangelho.
Lembro-me do episódio em que Jesus estava andando sobre as aguas e todos os discípulos acharam que era um fantasma. Quando Jesus falou que era ele, no meio de todas as dúvidas e incertezas que ainda pairavam naquela tempestade, Pedro olha para o vulto em cima do mar e grita: “se és tu, manda-me ir ao teu encontro por sobre as águas”.
Pedro soube enfrentar seu medo, seu fantasma, ousou andar sobre as águas, mesmo que por pouco tempo. É assim que devemos encarar os nossos fantasmas, e se vacilarmos, Cristo estará lá para estender a mão e acalmar a tempestade. Nossa fé nos faz encarar os problemas, e não fingir que eles não existem.
É como a última cena do filme citado a cima, Nash está recebendo prêmio pelo que fez no passado e dedica a sua esposa que está sentada na primeira fila. Quando a premiação acaba ela agradece a ele por ter optado em tomar o remédio e assim ter uma vida calma e ordinária do lado dela.
Ele olha para o lado, e o filme mostra os 3 fantasmas que sempre o perturbaram. Ele volta o olhar para sua mulher sabendo que os fantasmas estavam lá, e continua a sua conversa. Nash escolheu reconhecer sua fraqueza e conviver encarando de frente os seus fantasmas.
É assim também com o evangelho, ele não nos tira os fantasmas, não nos tira das dos vales escuros, não nos tira da realidade, quem dá esse ópio é a religião. O evangelho nos faz encarar os fantasmas de frente, e com a ajuda de Cristo, viver sabendo que eles podem aparecer, pois não tirarão mais a nossa fé no nosso salvador.
É como diz a musica dos Arrais: “Eu olhei a tristeza nos olhos e sorri”.