Ao longo do ministério com jovens pude perceber como era difícil expor a bíblia para os jovens de uma maneira que eles entendessem bem e que os motivassem a continuar a leitura do texto quando voltassem para casa.

Os seminários geralmente nos ensinam que logo após estudarmos um texto bíblico devemos sistematizá-lo para depois expô-lo em um estudo ou pregação. Com isso, cresci acostumado a ouvir dos pregadores, depois de uma breve introdução, uma mensagem cheias de pontos, passos e tópicos.

Um dos resultados de uma mensagem muito sistematizada é que pode fazer com que o público não entenda o texto, mas sim o resultado, a conclusão, a sistematização do texto. Desta forma, o público não aprende a pensar no texto, mas apenas a digerir o que foi colocado.

Corremos o risco de o grande foco ficar nos pontos e não no texto em si e, o interesse com a palavra pode cada vez mais diminuir, pois o texto fica tão distante da nossa realidade e, apenas na cabeça do pregador é que ela faz sentido com o nosso cotidiano.

Certa vez, conversando com um amigo e mestre, Ariovaldo Ramos, ele falou para mim que “o grande problema de interpretação da bíblia é que os intérpretes não entendem que a Biblia é um texto zipado”. E essa frase ficou na minha cabeça por anos até eu entender, desenvolver melhor a idéia e começar a aplicar nas palestras.

Uma definição particular de “Zip” é que ele é um programa de computador que compacta de tal forma outros programas, fazendo com que eles fiquem mais leves e caibam em lugares onde não caberiam normalmente.

É interessante pensar que a mensagem de Deus, como João falou no fim do seu evangelho, não poderia caber nem em sonhos dentro de um só livro, pois não haveria livros suficientes no mundo para escrever tudo que Ele fez e falou.

Por isso, o Espírito Santo, através dos escritores, fez uma seleção e “zipou” dentro de uma coleção de livros chamado bíblia. É muito importante lembrar que quando se “zipa” um texto, ele continua completo e com tudo do original, apenas fica compactado para caber em um recipiente.

Se apenas jogamos o texto com um pouco de contexto, e logo entramos nos tópicos, o público compreende o que pregador mandou fazer, mas não entende o que, de fato, aconteceu na passagem. Com isso, o mais importante não é o texto e sim o pregador.

Precisamos, como intérpretes da bíblia, aprender a “dezipar” o texto bíblico em nossas leituras bíblicas ou mensagens para que possamos entender o que realmente está acontecendo no texto.

A grande pergunta neste ponto do pensamento é: como podemos “dezipar” o texto bíblico? Qual ferramenta usar para isso? Eu diria: a sua imaginação! C. S. Lewis falou que a razão leva a verdade e a imaginação ao sentido de um texto.

Muitos textos bíblicos, como o evangelho, por exemplo, se preocupam em narrar os fatos, mas por estarem limitados na forma de texto (letra), não conseguem expressar por completo os sentimentos, os detalhes, o que causou certas reações. Isso cabe ao leitor. E ele só consegue remontar os fatos e dar sentido usando sua imaginação.

É necessário usar a imaginação, o que é diferente de viajar em idéias que não estão no texto, pois só estamos “dezipando” o que está contido na bíblia. E, principalmente, como em tudo na vida, temos que lembrar que a orientação do Espírito Santo é fundamental para não cometermos erros.

Podemos até entender em nossas mentes uma poesia de salmos sistematizada, mas só faz sentido e cai no nosso coração se ela for declamada, cantada. Se o começo do Salmo 23 não se tornar um campo aberto bem verde cortado por um rio de águas tranqüilas, com um senhor sentado em uma pedra, bem atento com um cajado na mão, posso até entender que Deus cuida de mim, mas não terei a consciência da beleza com que o salmista descreve o cuidado deste pastor.

No século XX o bom pregador era alguém que sistematizava bem os textos bíblicos, mas no século XXI o desafio é diferente. Um bom intérprete é um contador de histórias, alguém que expõe o texto colocando os detalhes e, assim, dando vida para que o público entenda o evangelho, a História.

Se aprendermos a “dezipar” o texto, iremos além de ensinar os princípios bíblicos para vida, daremos mais vida ao texto e com isso conseguiremos restaurar o amor pela leitura bíblica.

Texto feito para o Blog “marcos botelho do JV” 01/11/07

One Comment

  • Há tempos que eu digo que os pregadores de hoje têm que ter um pouco de Forrest Gump.Ás vezes ouço que quando “ilustramos” ou “viajamos” demais na passagem, incorremos no risco de deturpá-la.Acredito, e me corrijam se falho aqui, que a partir do momento que estamos pregando a Palavra somos orientados pelo Espírito Santo de Deus que habita em nós, e se dependermos dele e estivermos fazendo aquilo pra glória dele e não pra nossa, Ele não permite que erremos.De vez em quando todo mundo acha que a Palavra só pode ser pregada do jeito que eu escrevi aí em cima: de modo sério, prolixo e sóbrio. Não que não haja momentos pra isso, mas Deus pode muito bem nos “dar” uma piada, e mudar vidas através dela…Sei lá, fiquei pensando nisso…

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